quinta-feira, 31 de março de 2011

"Deixa Eu Voltar"

"Entra ! Que por uma louca razão
deixei a porta aberta.
Entra sem falar nada, só entra.
Vem! Te convido a entrar na minha boca,
a beijar meus seios, a tocar o meu corpo.
Tua mão, minha mão, descobre onde pode,
onde vibra, onde excita, onde arde.
Sopra! Levanta os meus cabelos,
sente o meu cheiro, morde o meu pescoço.
Tua pele, minha pele, o atrito, o lugar mais extremo,
energético, magnética atração.
Fala tudo que eu quero ouvir.
Constrói encontros.
Descobre a talhos e marca.
Marca com força, marca suave,
Marca gemendo.
E quando for embora, não esquece.
Eu estou em você e você entrou em mim".
Renata Arruda

DESIGUAIS, porém, SEMELHANTES.

Já ouviu a frase: "Pedir é feio"? Geralmente saem de bocas de mães que reprimem seus filhos, quando estes pedem algo à alguém. Que feio. Onde será que estão as mães dessas crianças acima para reprimí-las e ensiná-las bons modos? Eles não possuem. Não têm uma mãe de quem receber carinho e cuidados, e esses tais modos com que nos preocupamos tanto. Ninguém faz aviãozinho com a colher insistindo para que eles comam ou os colocam na cama. 

São crianças miseráveis que não pensam em outra coisa a não ser em comida e numa mão para afagá-los. E acredite, você não precisa viajar até o Haiti para encontrar crianças assim. Quando fizer seu percurso casa-trabalho repare embaixo dos viadutos que você passa, nas crianças que dormem nas calçadas e nas que estão limpando o para-brisa do seu carro. Vê alguma diferença? Todas têm aquela olhar penoso, como as crianças da foto. E todos só queriam ter um lar, uma boa alimentação, uma vida de criança. Alegre e cheia de tombos brincando com os amigos. 

Mas elas não podem se dar a esse luxo. Conhecem precoce e amargamente a necessidade de trabalhar e de pedir. Por mais que haja lei, por mais que haja orgãos... Crianças assim estão espalhadas por todo o país, quiçá, por todo o mundo. Queria ajudar, mas como? Vou sair por aí buscando um por um e pondo no meu caminhão da solidariedade e compaixão? Infelizmente não dá. Queria fazer algo que preenchesse esses rostos com um enorme sorriso e encharcasse o meu com muitas lágrimas. No entanto, enquanto não encontro uma alternativa viável, continuarei dando os trocados da minha carteira e meu lanche que eles tanto cobiçam com aqueles olhos cheios de esperança.

Não há maneira de nos sentirmos melhor que praticar o bem ao próximo.
Nos sentimos úteis, repletos de amor. Nada melhor que você ouvir um "muito obrigado" e um "Deus te abençõe", quando estes ditos de coração.

E se...

Eu não tivesse nascido? Meus pais teriam uma condição de vida mais elevada? Mas será que seriam felizes? Não sei, não sei. E acho que nem eles sabem. Eu gosto de existir, sabe? Mas e se eu tivesse nascido um gênio, super dotado mesmo? Certamente eu seria rico e bem sucedido, mas teria muitos amigos e me divertiria como me divirto? E se aquele celular estivesse carregando na sala, em cima do sofá, ainda estaríamos juntos? Acho que sim, penso que não. Sou feliz como sou, mas não seria sacrifício nenhum mudar algumas coisas. 


Uma vez me perguntaram se eu gostaria de voltar no tempo, caso pudesse, é claro. E eu, sem hesitar, disse que sim. Porém, não tenho mais tanta certeza disso. Há uma frase, mais que clichê que diz: "Não podemos voltar no tempo e refazer o passado, mas podemos mudar a partir de agora e fazer um novo futuro" Mais ou menos isso, não lembro ao certo. Realmente não podemos voltar, e mesmo que pudéssemos, recusaria. E também não estou nem um pouco interessado em reinventar meu futuro. Venha o que vier e que seja muito bem-vindo. Gosto do que é novo, do que me surpreende e me instiga. O passado é claro que importa e não pretendo me desfazer dele, só pretendo deixá-lo no devido lugar. Lá. 


Sou repleto de dúvidas e incertezas, mas já que ninguém pode me responder vou me arriscando, provando de tudo um pouco, decepcionando-me, reerguindo-me e depois rindo de tudo o que passou. E se você me aparecesse por essa porta chorando, dizendo que me ama e que se arrepende de tudo o que aconteceu e fez? O que será que eu faria? Não faço a mínima ideia, mas quer tentar?

segunda-feira, 28 de março de 2011

Faça uma lista...


















"Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais..."

Oswaldo Montenegro


Tenho ouvido bastante essa música ultimamente. Ela me faz ter inúmeras lembranças. É engraçado como costumamos acreditar que o "pra sempre" existe. Quando ainda se é novo tudo bem, mas a verdade é que nunca aprendemos que o eterno é inexistente. Principalmente os apaixonados. Ah, pobre dos apaixonados. Acreditam em tudo que o outro diz. E não só eles. Quantos amigos não já disseram que estariam ao seu lado pro que der e vier, que bastaria um grito seu, e hoje você sequer sabe onde ele mora? Não posso contar nos dedos quantas vezes isso já me aconteceu, só minhas mãos não seriam suficientes. Não morri por causa da ausência deles, mas sinto falta das conversas, da convivência diária, dos aniversários surpresas, dos grupos de estudo que nada estudavam... Sinto falta de ter uma "plateia" pra rir das minhas histórias. Histórias essas muitas vezes aumentadas para que acontecesse o mesmo com o riso de todos. Sempre tive essa necessidade de ver as pessoas bem ao meu lado para que eu ficasse bem.

Pior ainda é reencontrar esses velhos e bons amigos e não saber o que fazer, como falar, no que falar, pois, agora, aquela amizade intensa e pseudo-verdadeira ficou no passado. Você chega, cumprimenta, pergunta como estão as coisas, ele diz que está tudo bem, faz a mesma pergunta a você, e você com um desejo ardente em enchê-lo de perguntas e dizer que não está nada bem devido a sua ausência, apenas diz: "Está tudo ótimo, se melhorar estraga." Por que tentamos nos enganar? Por que nos calamos quando devemos gritar? Por bom senso? Tenho pra mim que quem exagera no bom senso deixa de viver muita coisa. Quanto aos meus velhos e bons amigos, guardo-os na memória e no peito. Sei que o pra sempre não existe, mas sei também que a vida seria muito monótona sem ilusões.